top of page

As mulheres, o Machismo e a Romantização das relações tóxicas

  • Foto do escritor: Giulianna Ruiz
    Giulianna Ruiz
  • 24 de mar. de 2021
  • 7 min de leitura

Ontem (23/03) Carla Diaz foi eliminada do BBB21 e isso trouxe várias reflexões, diante de tudo o que estava acontecendo na casa.


Primeiro que ela foi para um paredão com dois homens que são bem machistas. Não adianta Fiuk usar vestido e maquiagem para mostrar que é o desconstruído. Ele continua manipulando situações para que as mulheres sejam vistas como loucas, seja Juliette ou Thais. Rodolffo, nem preciso falar muito, não é?!


Começando pela fala violenta que teve quando colocou Carla no paredão que, depois, eles souberam que era falso. Ainda mais diante de uma justificativa de lealdade, sendo que ele não foi leal com a mulher com quem era casado. Mas ele pode, é homem... E, de tempos em tempos, Rodolffo mostra suas falas preconceituosas. Mas “tudo bem”, afinal ele foi criado no interior, no meio de muita gente “chucra” (como ele mesmo diz). E, assim, justifica o fato de não saber como se comportar! Até parece que a gente está falando de um cara que não tem nenhuma educação, nenhuma oportunidade e nenhum acesso às atualizações do mundo. Mas não importa, ele é homem e isso basta!


No último post que fiz sobre Carla e Arthur nas redes sociais, algumas pessoas disseram que não viram violência por parte de Arthur, por ter usado sua força para tentar beijá-la. Se você não considera isso como violência, eu sugiro que se aprofunde um pouco mais no tema. Eu percebo que estamos tão habituadas a viver com violências no dia a dia, que quando não acontece um tapa, um soco, um grito, uma facada, um tiro, uma surra, é como se ela não existisse. Porém, com os dados estatísticos e a minha experiência, acompanho de perto o número e a intensidade do quanto as mulheres estão adoecendo por conta disso. A violência vai MUITO além de tudo o que aceitamos como violência hoje. Talvez você não saiba, mas o desprezo é um tipo de violência. A tentativa de convencimento de que a pessoa está errada e ela está certa, é uma violência. E sim, usar da força para beijar outra pessoa, mesmo que ela esteja fazendo charme, é uma violência! Eu não inventei isso, não tirei da minha cabeça. São anos de pesquisas e estudos para poder falar sobre o tema. Mesmo assim, diante de tudo isso, quem foi punida? A mulher da historia!


Nada de novo, não é mesmo?


Além disso, Carla foi questionada diversas vezes sobre os motivos de não terminar com Arthur, diante de tudo o que acontecia na casa. Já ouviu essa pergunta sendo feita para mulheres que sofrem com violências escancaradas? Pois é… Muitas pessoas dizem que mulheres que não saem de relacionamentos ruins, destrutivos, abusivos e tóxicos, estão ali porque querem, porque gostam, porque não se valorizam. Mas existe uma condição que é muito comum, mas não tão conhecida, que é a condição de amar demais, conhecida também como dependência emocional, amor patológico, codependência emocional e outros nomes relacionados. Essas condições são sérias, podem levar à morte e precisam de acompanhamento profissional. Não vou me aprofundar nesse tema hoje, mas com certeza você encontra eu falando sobre isso em outros posts em minhas redes e em breve lançarei um e-book gratuito falando sobre o assunto. Fique ligada!


Um ponto que eu quero pegar aqui, é que uma mulher quando é estuprada, por exemplo, também é questionada. Querem saber sobre a roupa que estava, onde estava, que horas estava, fazendo o quê, com quem. Mas trago um dado importante: o maior número de estupros acontece dentro de casa! Uma mulher que apanha é outro exemplo: querem saber por que o seu parceiro a agrediu, como se ela tivesse provocado para que ele fizesse isso. Mulheres são questionadas o tempo inteiro e por tudo, já percebeu? Poderia fazer mais uma lista imensa sobre esses questionamentos aqui, mas vai ficar para outro post também.


Mas, acredite: acontece o tempo inteiro!


Dentro de um programa de TV, não seria diferente! Podem criticar o BBB o quanto quiserem, para mim, é um belo retrato da nossa sociedade e um retrato bem fiel sobre o comportamento humano de fato - até porque ninguém consegue sustentar máscaras e personagens por tanto tempo.


Hoje, no café da manhã com Ana Maria Braga, Carla descobriu várias coisas e falou algumas que achei importantes destacar aqui:


Ela disse que quando a gente se apaixona, fica cega: está aí um padrão que precisamos revisitar, questionar e pensar melhor! Por que você tem que ficar cega quando se apaixona? Que expectativa toda é essa que você coloca em cima de um relacionamento, como se fosse, de fato, a principal fonte de felicidade da sua vida? Será que a gente precisa cegar para nos sentirmos apaixonadas? Será que a gente precisa sofrer para acreditar que ama? Será que isso é amor? Fico pensando na maneira como aprendemos sobre amar. Atualmente, amor tem muito a ver com posse, com a dependência. E amor é uma construção social, que muda de tempos em tempos o seu conceito. Então, sim, estamos nesse momento agora, mas tudo pode mudar – e já está mudando. A crença de que amar assim é o único jeito, tem nos gerado muitas dores, sofrimento e mortes!


Será que não está na hora de questionarmos o que é amor, relacionamento e paixão para nós? Será que não é a hora de buscarmos maneiras mais saudáveis de nos relacionarmos? Até quando aceitaremos ser maltratadas “em nome do amor” ou da paixão cega?


Carla também falou que seria mais difícil dentro de um programa de TV, porque não estava ouvindo e vendo tudo. Na vida real, nós também não vemos e ouvimos tudo. Só podemos avaliar uma relação a partir do que vivemos. Deve estar sendo muito difícil para ela saber de tudo isso, ainda mais da noite para o dia. E é natural que a gente tente negar e justificar algumas coisas, para tentar aliviar e diminuir a dor. Ela deve estar se sentindo uma idiota por não ter percebido nada antes. Mas como ela iria perceber? Ainda mais com tanta gente falando na orelha dela, o tempo todo, que ele estava apaixonado por ela? Apoiando essa relação falida desde o momento em que ele a conquistou?


Lembrando que nós temos crenças, que muitas vezes são sociais e inconscientes, de que as mulheres “tem que” se esforçar para fazerem suas relações darem certo, porque se não, adivinhem? Ela não é boa o suficiente e “não conseguiu manter o outro interessado”.


Nós também acreditamos que temos que lutar por um relacionamento… afinal, lá no final, dará certo, assim como as comédias românticas que assistimos a vida inteira! #FakeNews


Além disso, Carla fala sobre a sua decepção. As decepções aparecem quando criamos expectativas. E está tudo bem criar expectativas! Faz parte da vida. Inclusive, são elas que nos ajudam a acreditar em algo, que traz movimento e esperança para nós. É um tipo de motivação. Mas, porque será que nós, mulheres, criamos tanta expectativa em relacionamentos amorosos? Não estou dizendo que a Carla fez isso, mas de maneira geral, é o que acontece o tempo todo também. É como se a vida só fizesse sentido realmente quando e se tivermos um relacionamento. Então a gente luta e se entrega, mergulha de cabeça e aposta todas as fichas, esquecendo que existem várias outras áreas da vida que podem nos gerar tanta satisfação e prazer, quanto as relações amorosas. Ainda mais quando a gente chora mais do que sorri, não sabe quando e se pode contar com a outra pessoa. Quando nos é negado qualquer tipo de afeto.


Até quando nós vamos colocar os relacionamentos amorosos como o centro de nossas vidas e vamos nos submeter às relações que geram tanto sofrimento, dor e humilhação?


E em relações com pessoas que agem como o Arthur, que não fodem e não saem de cima, a situação fica ainda mais difícil, porque é como se a pessoa não quisesse, mas também não largasse “o osso”, e aí, as mensagens são dúbias, contraditórias e acabamos ficando mais confusas, afinal: “ele diz que me ama”, ou “mas ele nunca me bateu”… entre várias outras mentiras que vamos contando pra nós mesmas, esperando que, no fim, o nosso par se transforme no príncipe que tanto sonhamos. Mas príncipes não existem. E as pessoas dão sinais desde muito cedo. Nós é que, muitas vezes, não queremos ver.


No café da manhã com Ana Maria Braga, A Carla também comeu muito durante as informações que recebeu e diante de algumas perguntas da apresentadora. Quantas vezes a gente não enche a boca para tentar anestesiar e distrair aquilo o precisamos sentir e até calar o que queremos falar? De novo… deve estar sendo muito duro para Carla lidar com tudo isso.


Para mim, a parte mais bonita desse trecho do café com a Ana, foi quando Carla disse que nenhuma mulher merece passar por isso! Infelizmente, essa consciência ainda está em nossa área cognitiva, mas eu fico muito feliz em perceber que estamos caminhando e nos livrando de amarras que nos aprisionam e nos fazem sofrer. Que estamos avaliando melhor as nossas relações e não estão mais nos calando. Mesmo que ainda tenhamos muito para caminhar. O importante é não parar.


Outra fala MARAVILHOSA de Carla é sobre homens com atitudes ruins e mulheres sendo julgadas. Como eu disse lá no começo: isso acontece o tempo todo! Infelizmente. E se a gente não se unir, se não colocarmos o nosso bem estar em primeiro lugar, se não afiarmos o nosso olhar e percepções, se não colocarmos limites reais, isso vai continuar acontecendo e a gente vai continuar normalizando e justificando todos os tipos de violência contra a mulher. Por isso, Donnas: leiam, estudem, se informem, façam terapia, participem de grupos para mulheres, vejam palestras, participem de workshops, rodas de conversas. Nós precisamos nos fortalecer EMOCIONALMENTE!


E para finalizar, eu quero falar sobre a gratidão de Carla pelas informações passadas por Ana Maria. Sejam GRATAS quando alguém disser que o par de vocês está sendo sacana. Escutem as outras mulheres. E aqui, não estou falando para você odiar os homens e acreditar em qualquer coisa. Só se proteja e se cuide. A rivalidade entre nós está acabando. Estamos cada vez mais próximas! Essa crença de que a “fulana” falou algo para você porque ela tem inveja da sua relação e da sua felicidade, precisa ser questionada! Nem todo mundo quer um relacionamento ou ficar com o seu par. Tem gente que só quer ver o seu bem mesmo!


Quem diria que um BBB traria tantas reflexões e ensinamentos?


É o que eu sempre digo: quando você escolhe que tudo será um meio de aprendizagem para você, tudo o que você consome, vira uma oportunidade.


Vamos juntas!

Giulianna Ruiz

Psicóloga especialista em desenvolvimento e fortalecimento emocional de mulheres

CRP: 06/103926

 
 
 

Comentários


bottom of page